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Raul Seixas, 25 anos depois

E a geração da luz nunca passa


“Eu sei que determinada rua que eu já passei não voltará a ouvir o som dos meus passos,tem uma revista que guardo há muito tempo e que nunca mais eu vou abrir... A morte surda caminha ao meu lado e eu não sei em que esquina ela vai me beijar...” Raul Seixas canta para sua morte e faz um pedido, “vista-se com sua melhor roupa quando vieres me buscar, que meu corpo seja cremado, que minhas cinzas alimente a erva e que a erva alimente outro homem como eu, porque eu viverei nesse homem”.


E ela veio em 21 de agosto de 1989, se com sua mais bela roupa não se sabe. Mas a dama que levou o corpo não matou Raul Seixas, não emudeceu sua voz, não sufocou sua poesia, não calou o seu grito. Existe hoje um coro que repete sem cessar “Toca Raul”, e Raul continua tocando, continua cantando e arrebanhando fãs que chegam à beira do fanatismo.As redes sociais estão cheias de páginas e perfis vinculados ao ídolo. Em qualquer busca será incontável o número de resultados...


Raul viveu intensamente, amou, revolucionou, subverteu o sistema, despertou sonhos, rebeldia, coragem e ainda profetizou. “Eu vou embora apostando em vocês, meu testamento deixou minha lucidez, vocês vão ter um mundo bem melhor que o meu.” Raul confiava que aquela geração mudaria o mundo. “Vocês serão o oposto dessa estupidez,aventurando tentar outra vez. A geração da luz é a esperança no ar”.


Junto com Paulo Coelho, parceiro em várias composições tais como Gita, Rock do diabo, Al Capone entre outras, fundou a “Sociedade Alternativa” baseada nos escritos do ocultista britânico Aleister Crowley e sua lei de Thelema. “Viva a sociedade alternativa. A lei do forte, esta é a nossa lei e a alegria do mundo. Faze o que tu queres há de ser tudo da lei. Faze isso e nenhum outro dirá não. Pois não existe deus se não o homem.Todo homem tem direito de viver a não ser pela sua própria lei.”


Raul não queria ser prefeito, tinha medo de morrer dependurado numa cruz e uma certa inclinação para discos voadores. “Oh! Oh! Oh! Seu moço do disco voadorme leve com você pra onde você for”! Raul também conseguia burlar a censura e criticar livremente a sociedade da época. “E você ainda acredita que um doutor, padre ou policial. Que está contribuindo com sua parte para nosso belo quadro social.”


Raul também cantou o amor, de uma forma diferente e realista. Mas romântico a seu modo. “Porque quando eu jurei meu amor eu traí a mim mesmo, hoje eu sei que ninguém é feliz tendo amado uma vez”. Além de cantar, viveu o amor de um modo especial, colecionava amores sem deixar de amar nenhum deles. “Se eu te amo e tu me amas, um amor a dois profana o amor de todos os mortais. Porque quem gosta de maçã, Irá gostar de todas, porque todas são iguais”.


Ele se foi jovem ainda, com 44 anos, vítima das drogas que a vida lhe apresentou. Suas ideias e sua filosofia a exemplo dele também não envelheceram, permanecem atuais, despertam o pensar. O mito Raul Seixas acabou se tornando um clássico daqueles que cada vez que se ouve traz algo novo, algo que ninguém tinha percebido, como uma obra inédita.Tal qual uma tela inacabada que se deixa ser retocada, e a cada nova pincelada pode surpreender e encantar.


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